Home / Internacional / Ilha amazônica contestada por Peru e Colômbia sobrevive graças a serviços do Brasil

Ilha amazônica contestada por Peru e Colômbia sobrevive graças a serviços do Brasil

rss featured 17356 1754777640
Spread the love

Brasília – Santa Rosa de Loreto, ilha com cerca de 3 000 moradores na região da tríplice fronteira amazônica, tornou-se alvo de um confronto diplomático entre Peru e Colômbia. Embora pertença administrativamente ao Peru, a população depende de hospitais, escolas, energia e abastecimento que chegam de Tabatinga (Brasil) e Letícia (Colômbia).

Escalada política

O impasse ganhou força em julho de 2024, quando o Congresso peruano aprovou lei que transformou Santa Rosa em distrito da província de Mariscal Ramón Castilla. Lima sustenta que a ilha é extensão de Chinería, território reconhecido ao Peru em 1929. A presidente Dina Boluarte declarou que “não há nada pendente” a negociar.

Em resposta, o presidente colombiano Gustavo Petro classificou a medida como “grave violação” da soberania de seu país. A tensão subiu em 7 de agosto de 2025, quando um avião militar colombiano sobrevoou a área durante ato cívico peruano. Bogotá alegou escolta presidencial; Lima exigiu garantias de que o episódio não se repetirá.

Dependência cotidiana do lado brasileiro

Santa Rosa dispõe apenas de um posto de saúde básico. Para procedimentos como cesarianas, pacientes enfrentam quatro horas de barco até Caballococha (Peru) ou atravessam o rio em busca de atendimento gratuito em Tabatinga e Letícia. O único colégio da ilha tem estrutura precária, o que faz famílias matricularem filhos em escolas colombianas.

A falta de água tratada, esgoto e fornecimento regular de energia — instalado há apenas cinco anos — reforça a interdependência. O real é a moeda mais usada, seguido do sol peruano e do peso colombiano. Alimentos básicos como arroz, açúcar e óleo chegam sobretudo do lado brasileiro, encarecidos pelo transporte fluvial.

A questão do acesso colombiano ao Amazonas

No centro da disputa está o risco de a Colômbia perder conexão direta com o rio Amazonas. Estudos da Universidade Nacional da Colômbia apontam queda no fluxo hídrico junto a Letícia: de 30 % em 1993 para 19,5 % hoje. Sem obras de dragagem no estreito de Nazareth, o porto — principal saída colombiana ao Amazonas — pode ficar inacessível durante grande parte do ano até 2030.

Ilha amazônica contestada por Peru e Colômbia sobrevive graças a serviços do Brasil - Imagem do artigo original

Imagem: Brasil e Colômbia via gazetadopovo.com.br

O traçado fronteiriço foi definido pelos acordos Salomón-Lozano (1922) e Protocolo do Rio de Janeiro (1934), que determinam a linha de soberania pelo canal mais profundo do rio. Como Santa Rosa surgiu por sedimentação entre as décadas de 1950 e 1970, não estava contemplada nesses tratados, o que alimenta a disputa atual.

Próximos passos

A Comissão Mista Permanente para Inspeção da Fronteira (Comperif) deve reunir representantes dos dois países em setembro de 2025. Se não houver consenso, Lima e Bogotá podem levar o caso a instâncias judiciais internacionais.

Com informações de Gazeta do Povo