Um memorando divulgado pela Casa Branca em 3 de agosto de 2025 colocou o Brasil, pela primeira vez, na lista de ameaças à segurança nacional dos Estados Unidos. O documento, assinado pelo presidente norte-americano Donald Trump, justifica a decisão com o que define como “ações arbitrárias e tirânicas” do governo brasileiro e de decisões do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Com base no parecer, Washington determinou a aplicação imediata de uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros. A medida, segundo o texto oficial, responde a pressões sobre empresas americanas de redes sociais, denúncias de violações de direitos humanos e perseguição política ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Especialistas ouvidos pela imprensa apontam que o governo dos EUA teme que o país siga trajetória semelhante à da Venezuela, combinando insegurança jurídica, aproximação entre Executivo e Judiciário e alinhamentos externos considerados hostis.
15 fatores citados por Washington
- Autorização, em fevereiro de 2023, para a atracação dos navios de guerra iranianos IRIS Makran e IRIS Dena no Rio de Janeiro, apesar de alertas de sanções dos EUA.
- Recepção de Nicolás Maduro com honras de chefe de Estado em Brasília, em maio de 2023.
- Participação de ministros brasileiros no Fórum de São Petersburgo ao lado de Vladimir Putin, Kim Jong-un e Bashar al-Assad, em junho de 2024.
- Presença do vice-presidente Geraldo Alckmin na posse de Masoud Pezeshkian, no Irã, em julho de 2024.
- Apoio do Brasil à ação sul-africana na Corte Internacional de Justiça contra a ofensiva israelense em Gaza, em 2024.
- Manutenção de importações de fertilizantes e diesel da Rússia após advertências de sanções norte-americanas, além de participação de Lula em evento militar em Moscou, em maio de 2025.
- Declarações de Lula comparando governos de direita, entre eles o de Trump, ao nazismo.
- Retomada da exigência de visto para turistas dos EUA entre 2022 e 2024.
- Defesa, nas cúpulas do Brics em 2024, de substituir o dólar como moeda global.
- Desenvolvimento do sistema BricsPay e expansão do Pix como alternativas ao dólar.
- Acordos que facilitaram a entrada de carros elétricos chineses no mercado brasileiro, em 2024.
- Solicitação de Lula a Xi Jinping por cooperação no controle de redes sociais; antes disso, Moraes havia bloqueado o X e congelado ativos da Starlink, em maio de 2025.
- Recusa do Brasil, em maio de 2025, em classificar PCC e Comando Vermelho como grupos terroristas.
- Críticas constantes do governo brasileiro à resposta militar de Israel ao Hamas, iniciadas em outubro de 2023.
- Declaração de Lula chamando Trump de “imperador do mundo” e promessa de retaliação às tarifas norte-americanas.
Repercussão e justificativas
Para Márcio Coimbra, presidente do Instituto Monitor da Democracia, a decisão reflete um cálculo estratégico, não meramente comercial. Ele aponta que restrições impostas pelo STF a plataformas dos EUA e a aproximação do Brasil com o Irã elevaram o nível de preocupação em Washington. Segundo Coimbra, as sanções buscam pressionar o governo brasileiro a realinhar sua política externa e a rever decisões judiciais que afetam empresas americanas.
O cientista político acrescenta que a Casa Branca enxerga fragilidades na proteção de dados e tecnologias sensíveis, além de riscos de financiamento a grupos considerados terroristas. A tributação, portanto, seria um sinal de que os EUA não tolerarão medidas que ameacem sua arquitetura de segurança.
Contexto político interno
A iniciativa de Trump ocorre após carta enviada a Lula em 9 de julho com críticas ao STF e referências ao “risco de venezuelização” do Brasil. Desde 2023, decisões judiciais como a derrubada temporária do X e a regulação de redes sociais motivam debates sobre liberdades civis no país.

Imagem: Sílvio RibasBrasília via gazetadopovo.com.br
No mesmo período, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) declarou Jair Bolsonaro inelegível até 2030 por abuso de poder político e uso da estrutura presidencial para questionar o sistema eleitoral, decisão que Trump classificou como “caça às bruxas”.
A Casa Branca também elevou tarifas de 50% contra a Índia, membro do Brics que segue comprando petróleo russo. Analistas veem nessas ações um esforço para conter a influência de Rússia e China nos emergentes e proteger o papel do dólar no comércio global.
O governo brasileiro ainda não definiu quais contramedidas adotará, mas Lula indicou que “todas as opções” estão sobre a mesa.
Com informações de Gazeta do Povo