Brasília – Integrantes da esquerda que atualmente acusam a oposição de buscar interferência internacional contra o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apoiaram iniciativas semelhantes quando Jair Bolsonaro (PL) estava no Palácio do Planalto.
Tarifas e sanções dos EUA reacendem debate
O tema voltou ao centro das discussões após o ex-presidente norte-americano Donald Trump anunciar, em 30 de julho de 2025, tarifa de 50% sobre produtos brasileiros importados, válida a partir de 6 de agosto. O republicano também aplicou a Lei Magnitsky para sancionar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Durante inauguração da Usina Termelétrica GNA II, no Rio de Janeiro, em 28 de julho, Lula acusou o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o jornalista Paulo Figueiredo de estimularem ataques ao país: “O cara que vivia enrolado na bandeira nacional agora está pedindo para atacar o Brasil”.
Em resposta, o deputado Luiz Phillipe de Orleans e Bragança (PL-SP) afirmou que a articulação se limitou à Lei Magnitsky para “conter abusos do Judiciário” e que sanções econômicas foram decisão exclusiva de Washington.
Pressão ambiental em 2019 teve apoio da oposição
No primeiro ano do governo Bolsonaro, críticas estrangeiras ao aumento do desmatamento levaram Alemanha e Noruega a bloquear R$ 288 milhões do Fundo Amazônia. Petistas e aliados comemoraram quando governadores da Amazônia Legal, liderados por Helder Barbalho (MDB-PA), buscaram acordos diretos com os europeus.
Em discurso na Câmara, em agosto de 2019, o deputado Bohn Gass (PT-RS) exaltou as negociações: “Defender a Amazônia é nos livrar da poluição; já, já teremos bloqueio internacional se continuarmos com esse desmatamento”.
Na mesma época, políticos e ONGs de esquerda enviaram dossiê ao então presidente Joe Biden pedindo o cancelamento de parcerias com o Brasil enquanto Bolsonaro permanecesse no cargo.
Pandemia levou estados a contornar o Itamaraty
A decisão do STF que garantiu autonomia a governadores e prefeitos na crise de Covid-19, em abril de 2020, abriu caminho para negociações diretas com a China por vacinas e insumos. O Consórcio Nordeste, capitaneado pelo então governador Wellington Dias (PT-PI), intensificou diálogos com Pequim.

Imagem: Vinícius SalesPor Aline Rechmann via gazetadopovo.com.br
Em janeiro de 2021, João Doria (PSDB) reativou escritório de São Paulo em Xangai para destravar insumos da CoronaVac. No mês seguinte, líderes de PT, PSB, PDT, PCdoB e PSOL reuniram-se com o embaixador Yang Wanming. “Buscamos ajuda onde o governo federal se ausentou”, disse o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP).
Campanha internacional pela anulação das condenações de Lula
Entre 2017 e 2020, aliados de Lula articularam apoio externo contra decisões da Operação Lava Jato. O então advogado Cristiano Zanin percorreu a Europa alegando perseguição política e acionou o Comitê de Direitos Humanos da ONU.
Em 2018, Gleisi Hoffmann gravou vídeo à Al Jazeera pedindo auxílio do mundo árabe; Dilma Rousseff e Guilherme Boulos também viajaram ao exterior denunciando supostas arbitrariedades do Judiciário.
As mobilizações culminaram, em 2020, em manifesto assinado por representantes de mais de 40 países solicitando ao STF a anulação das sentenças contra o petista.
Hoje, porém, as mesmas lideranças classificam como “traição à soberania” as gestões da direita junto a Washington, reacendendo a discussão sobre a legitimidade de recorrer a atores estrangeiros em disputas políticas internas.
Com informações de Gazeta do Povo