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Tarifaço tende a reduzir inflação, mas cenário fiscal deve segurar Selic em 15%, apontam especialistas

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Brasília – A queda esperada da inflação no segundo semestre, impulsionada pelas tarifas de 50% anunciadas pelo presidente norte-americano Donald Trump sobre produtos brasileiros, não deve abrir espaço para cortes na taxa básica de juros neste ano, segundo avaliação predominante no mercado financeiro.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nesta quarta-feira (30) e deve manter a Selic em 15% ao ano, o nível mais alto em quase 20 anos, interrompendo o ciclo de aumentos iniciado em setembro de 2024.

Projeções dos bancos

Para Caio Megale, economista-chefe da XP, os cortes só devem começar em janeiro de 2026. “Acreditamos que o Copom será conservador neste semestre para garantir a trajetória de queda da inflação”, afirmou. A XP estima o IPCA de 2025 em 5,0%, projeção que já superou 6,0% em meses anteriores.

Rodrigo Miotto, da Nippur Finanças, considera improvável qualquer movimento diferente da manutenção da taxa. “Não há espaço para cortes no curto prazo, mesmo com uma tendência deflacionária nos indicadores”, disse.

Relatório do J.P. Morgan prevê que a autoridade monetária reforçará a necessidade de “vigilância e perseverança” até que a desinflação esteja consolidada. Já o Itaú Unibanco avalia que a Selic permanecerá em patamar contracionista “por período bastante prolongado” e projeta início dos cortes apenas no primeiro trimestre de 2026.

Efeito das tarifas

A imposição das tarifas norte-americanas tende a reduzir o crescimento econômico do Brasil ao desviar exportações para o mercado interno, pressionando menos os preços. Mesmo assim, Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, acredita que o Copom não considerará de imediato o impacto da medida. “As tarifas ainda estão em negociação e o efeito sobre preços, por enquanto, é limitado”, avaliou. Para Padovani, um eventual afrouxamento monetário deve ficar para o segundo trimestre de 2026.

Indicadores de preços

O IPCA acumulou alta de 5,35% nos 12 meses até junho, acima do teto da meta de 4,5% por seis meses consecutivos. A inflação de serviços ultrapassa 6%. A meta central do Banco Central é de 3%, com intervalo de 1,5 ponto percentual. O presidente da instituição, Gabriel Galípolo, projeta que a inflação volte a ficar abaixo do teto apenas no fim do primeiro trimestre de 2026, com a atenção do Copom já voltada para a inflação do primeiro trimestre de 2027.

Risco fiscal e câmbio

Apesar do possível alívio inflacionário, analistas apontam efeitos negativos do tarifaço sobre as contas públicas. Miotto lembra que os Estados Unidos respondem por cerca de 12% das exportações brasileiras, o que pode reduzir a arrecadação. Padovani reforça que menor atividade econômica enfraquece a receita e amplia a vulnerabilidade fiscal.

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Imagem: Jose Cruz via gazetadopovo.com.br

Se houver acordo entre Brasil e EUA, Miotto prevê dólar em torno de R$ 5,40; sem entendimento, a moeda pode subir acima de R$ 5,50. Ele, contudo, não espera alterações na política de juros em nenhum dos cenários.

Gastos públicos no radar

Para Megale, as despesas federais devem acelerar no segundo semestre com precatórios, emendas parlamentares e benefícios do INSS, podendo dificultar a convergência da inflação à meta. Ele e outros economistas alertam que, às vésperas das eleições de 2026, medidas de estímulo – como transferências, crédito subsidiado e desonerações – podem adiar a queda da Selic para um dígito.

Solange Srour, economista do UBS, classifica o quadro fiscal como “bastante desafiador” e ressalta que ações de estímulo ao crédito e à demanda postergam a trajetória de redução dos juros.

Com a combinação de incerteza externa, risco fiscal e inflação ainda resistente, o consenso no mercado é que a Selic permanecerá em 15% pelo menos até o início de 2026.

Com informações de Gazeta do Povo