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Indústria brasileira antecipa demissões e férias coletivas às vésperas da tarifa de 50% dos EUA

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Faltando poucos dias para a entrada em vigor da sobretaxa de 50% anunciada pelos Estados Unidos sobre todos os produtos brasileiros, empresas instaladas no país suspenderam contratos, paralisaram linhas de produção e dispensaram funcionários de forma temporária ou definitiva. A nova tarifa, confirmada pelo presidente Donald Trump para começar na próxima sexta-feira, 1.º, já provoca cortes de emprego e férias coletivas em série.

Madeireiras do Sul entre as mais afetadas

Responsável por cerca de 90% da capacidade produtiva de painéis e compensados, o setor madeireiro da Região Sul sente os primeiros efeitos do tarifaço. Na semana passada, a Sudati iniciou processo de demissão coletiva de 100 empregados nas fábricas de Ventania e Telêmaco Borba (PR). O desligamento será concluído em 60 dias. Unidades em Palmas e Ibaiti, também no Paraná, além de Otacílio Costa (SC), não foram incluídas por enquanto.

Na BrasPine, 1,5 mil trabalhadores – mais da metade do quadro – foram colocados em férias coletivas. No dia 15, 700 empregados da planta de Jaguariaíva (PR) receberam 30 dias de afastamento. Na semana seguinte, a medida foi estendida a mais 800 pessoas: 50 da mesma unidade e 750 do complexo de Telêmaco Borba. O grupo foi dividido em dois turnos de 30 dias, o primeiro iniciado na segunda-feira, 28, e o segundo a partir da próxima segunda, 4.

Outra companhia do Paraná, a Millpar, concedeu férias coletivas a 720 funcionários das fábricas de Guarapuava e Quedas do Iguaçu. A extensão do benefício dependerá do rumo das negociações entre Brasília e Washington.

Em Santa Catarina, o Grupo Ipumirim antecipou férias para 550 colaboradores que atuam na produção de portas, kits e molduras. Já a Móveis Weihermann, que destina 70% da produção ao mercado norte-americano, suspendeu totalmente as atividades nesta semana.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), o segmento emprega 180 mil pessoas e enviou US$ 1,6 bilhão aos Estados Unidos em 2024, metade de tudo o que exportou. Hoje, 1.400 contêineres com mercadorias já estão em trânsito rumo ao território norte-americano, enquanto outros 1.100 aguardam embarque nos portos.

Paradas na siderurgia mineira

O tarifaço também atinge o ferro-gusa produzido em Minas Gerais, responsável por 68% das vendas externas para os Estados Unidos, de acordo com o Sindicato da Indústria do Ferro do estado (Sindifer). A Fergubel, instalada em Matozinhos, interrompeu as operações por 30 dias e colocou seus cerca de 150 empregados em férias coletivas.

As siderúrgicas Modulax e CSS Siderúrgica Setelagoana adotaram o mesmo caminho, porém por tempo indeterminado, na tentativa de evitar demissões imediatas. Em 2024, 87% do ferro-gusa brasileiro – 3,3 milhões de toneladas – foi comprado pelos EUA, e 85% desse volume saiu de Minas Gerais.

Estimativa aponta até 110 mil cortes de vagas

Levantamento do Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental Aplicada (Nemea) da UFMG projeta 110 mil desligamentos caso a tarifa se mantenha: 40 mil na agropecuária, 31 mil no comércio e 26 mil na indústria. O Produto Interno Bruto cairia 0,16%, ou R$ 19,2 bilhões. Os maiores prejuízos absolutos seriam em São Paulo (-R$ 4,4 bi), Rio Grande do Sul (-R$ 1,9 bi), Paraná (-R$ 1,9 bi), Santa Catarina (-R$ 1,74 bi) e Minas Gerais (-R$ 1,66 bi).

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Imagem: criada utilizando Dall-E via gazetadopovo.com.br

A Taurus, principal fabricante nacional de armas, declarou que poderá transferir toda a produção para os Estados Unidos se a sobretaxa não for revista, o que colocaria até 15 mil postos em risco no Rio Grande do Sul, 3 mil deles diretos na fábrica de São Leopoldo.

Estados anunciam socorro; governo federal prepara medidas

Diante da dificuldade do Palácio do Planalto de obter adiamento ou redução da tarifa, governadores lançaram programas emergenciais. Goiás abriu linha de crédito com juros anuais inferiores a 10%. Em São Paulo, exportadores terão até R$ 20 milhões por empresa a juros de 0,27% ao mês mais inflação, prazo de 60 meses e carência de 12. O estado também liberará R$ 1 bilhão em créditos de ICMS e ampliará seu fundo garantidor.

No Paraná, mais de R$ 400 milhões serão oferecidos em financiamentos pela Fomento Paraná e pelo BRDE, além da liberação de créditos de ICMS e possibilidade de prorrogação de parcelas de empréstimos. O Rio Grande do Sul disponibilizou R$ 100 milhões via BRDE, com juros entre 8% e 9% ao ano, prazo de 60 meses e um ano de carência.

O Ministério da Fazenda avalia um pacote nacional que inclui facilitação de crédito e um programa de preservação de empregos nos moldes do Benefício Emergencial (BEm) criado durante a pandemia.

Enquanto isso, as conversas diplomáticas seguem travadas: no domingo, 27, Trump descartou qualquer postergação, confirmando o início da cobrança na próxima sexta-feira.

Com informações de Gazeta do Povo