O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) considera improvável qualquer negociação com os Estados Unidos antes de a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, determinada pelo presidente Donald Trump, entrar em vigor na próxima sexta-feira (1º).
Sem missão oficial e sem agenda definida
Após semanas de tentativas diplomáticas malsucedidas, o Itamaraty avaliou que enviar uma comitiva de alto escalão a Washington, sem reunião confirmada na Casa Branca, poderia resultar em desgaste. Ao contrário de União Europeia, Reino Unido, Japão, Indonésia e Filipinas – que obtiveram reduções nas tarifas – o Brasil optou por não despachar emissários de primeiro escalão.
Assessores do Palácio do Planalto relatam que Trump não autorizou interlocutores a avançar nas conversas, inviabilizando tratativas antes do prazo. A equipe econômica e o vice-presidente Geraldo Alckmin mantêm contato com secretários norte-americanos, mas sem sinal verde da Casa Branca.
Declarações que teriam travado o diálogo
Fontes do governo, sob reserva, apontam dois episódios que teriam prejudicado uma aproximação: a entrevista em que Lula afirmou à CNN International que Trump “não foi eleito para ser imperador do mundo” e a recente operação da Polícia Federal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, que resultou em uso de tornozeleira eletrônica e restrições impostas pelo ministro Alexandre de Moraes (STF).
Lula aposta no embate
Durante agenda em Minas Gerais, em 25 de julho, Lula declarou: “Se ele estiver trucando, vai tomar um seis”, reforçando a estratégia de confronto verbal. Internamente, auxiliares veem na tensão com Trump oportunidade de reforçar a imagem do presidente para as eleições de 2026.
Caminho via OMC e possível retaliação
Sem avanço bilateral, o Brasil levou o tema à Organização Mundial do Comércio (OMC), obtendo apoio de cerca de 40 membros – entre eles União Europeia, China e Canadá. O embaixador Philip Fox-Drummond Gough criticou o uso de tarifas para “interferir em assuntos internos”.
O recurso à OMC pode abrir espaço para aplicação da Lei da Reciprocidade, com tarifas sobre produtos norte-americanos. Entidades empresariais, porém, alertaram Alckmin para o risco de uma escalada que comprometa indústria, agronegócio, emprego e renda.
Campanha do PT mira Bolsonaro e EUA
A Secretaria de Comunicação e o PT veiculam peças que associam a tarifa a Bolsonaro e retratam os EUA como “lobo mau”. Em vídeos, inteligência artificial recria rosto semelhante ao do ex-presidente e critica “patriotas que batem continência para outra bandeira”.

Imagem: Wesley OliveiraPor Vinícius Sales via gazetadopovo.com.br
O cientista político Elton Gomes, da Universidade Federal do Piauí, observa que a adoção de discursos nacionalistas pela esquerda “não tem como se sustentar por muito tempo”.
Minerais estratégicos entram na pauta
Enquanto o impasse persiste, o encarregado de negócios da embaixada norte-americana, Gabriel Escobar, demonstrou interesse em fechar acordos sobre minerais críticos brasileiros – como lítio, nióbio e terras raras – em reunião com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). O presidente do Ibram, Raul Jungmann, ressaltou que qualquer acerto depende do Executivo.
O Brasil responde por cerca de 92% da produção mundial de nióbio. Desde que voltou à Casa Branca em janeiro, Trump usa a demanda por recursos estratégicos para negociar acordos e conter a influência chinesa. Em fevereiro, ele fez proposta semelhante à Ucrânia e, em abril, ambos assinaram pacto que incluiu um Fundo de Investimento para Reconstrução EUA-Ucrânia.
A tarifa de 50% sobre produtos brasileiros passa a vigorar na sexta-feira (1º), sem previsão de negociação de última hora entre Brasília e Washington.
Com informações de Gazeta do Povo