Empresas brasileiras que atuam na importação de combustíveis começaram a buscar fornecedores alternativos para o óleo diesel, reduzindo gradualmente as compras da Rússia. O movimento ganhou força após novas ameaças de sanções por parte dos Estados Unidos e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e pelo encarecimento do produto oferecido por Moscou.
Pressão diplomática
Na segunda-feira, 28 de julho, o presidente norte-americano Donald Trump afirmou que pode encurtar o prazo de 50 dias, inicialmente concedido a parceiros comerciais da Rússia, para o início de sanções secundárias. Anunciadas em 14 de julho, essas penalidades prevêem tarifas de 100% sobre produtos de países que continuem negociando com o Kremlin enquanto Vladimir Putin não aceitar negociar um cessar-fogo na Ucrânia.
Um dia depois do anúncio de Trump, em 15 de julho, o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, mencionou Brasil, China e Índia como possíveis alvos dessas tarifas caso mantenham as importações russas.
Perda de competitividade
A vantagem de preço que levou o Brasil a ampliar a compra de diesel russo desde 2022 vem diminuindo. Segundo Sérgio Araújo, presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), o desconto já foi de US$ 0,15 por galão no início do conflito e hoje gira em torno de US$ 0,03.
Dependência e números recordes
De acordo com o Centre for Research on Energy and Clean Air (CREA), o Brasil gastou R$ 38 bilhões com diesel russo em 2024, tornando-se o segundo maior cliente mundial, atrás apenas da Turquia. No mesmo ano, 65% do diesel importado pelo país veio da Rússia; Estados Unidos responderam por 17%, Emirados Árabes Unidos por 6%, Kuwait por 5% e outros fornecedores por 7%.
Embora seja autossuficiente em produção de petróleo, o Brasil precisa importar cerca de 15 bilhões de litros de diesel por ano — 35% da demanda nacional de mais de 67 bilhões de litros. A falta de capacidade de refino é apontada por especialistas como o principal gargalo.
Ações no Congresso
A deputada federal Silvia Waiãpi (PL-AP) investiga possíveis irregularidades no desembarque de combustíveis russos no Porto de Santana, no Amapá. Ela afirma ter obtido da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) a confirmação de que 215 mil metros cúbicos de diesel declaradamente originário da Rússia entraram no estado, sem que Receita Federal ou Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) possuam registro da chegada de navios russos. A parlamentar também solicitou audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional para discutir o tema.

Imagem: Juliet Manfrin via gazetadopovo.com.br
Tarifas adicionais
Além das sanções contra negócios com Moscou, Trump determinou tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1.º de agosto, alegando motivações políticas. O deputado Luciano Zucco (PL-RS), líder da oposição, avalia que a política externa do governo Luiz Inácio Lula da Silva aproxima o país de “ditaduras” e expõe o Brasil ao risco de isolamento econômico.
Risco de desabastecimento
Para o engenheiro de petróleo e professor da PUC, Armando Cavanha, a interrupção súbita do fornecimento russo obrigaria o Brasil a recorrer a Estados Unidos, Arábia Saudita, Índia ou Catar, com preços mais altos e possibilidade de desabastecimento temporário, já que o país não possui estoques estratégicos — ao contrário dos EUA, que contam com reservas para aproximadamente 40 dias.
Impacto nos preços internos
Segundo a ANP, o valor médio do litro de diesel S-10 caiu de R$ 6,40 em janeiro de 2023 para R$ 5,97 na segunda semana de julho de 2025. A redução é atribuída à política de preços da Petrobras e ao combustível mais barato importado da Rússia. Especialistas alertam que a tendência pode se inverter caso as sanções entrem em vigor e o Brasil tenha de pagar mais a outros fornecedores.
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior informa que as importações brasileiras oriundas da Rússia subiram de US$ 6,2 bilhões em 2021 para US$ 12,2 bilhões em 2024. Analistas de direito internacional, como Luiz Augusto Módolo, avaliam que o país precisa diversificar fornecedores e ampliar a capacidade de refino para reduzir a exposição a pressões geopolíticas.
Com informações de Gazeta do Povo