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Aumento de tarifas dos EUA expõe isolamento comercial do Brasil e pressiona por abertura externa

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O anúncio de que os Estados Unidos elevarão para 50% as tarifas sobre produtos brasileiros a partir de 1.º de agosto de 2025 já provoca cortes de produção em empresas que dependem do mercado norte-americano. A medida, confirmada neste domingo (27) pelo presidente Donald Trump, deixa o Brasil isolado entre os principais parceiros comerciais de Washington, enquanto outras nações conseguiram renegociar taxas nos últimos dias.

Outros países obtêm alívio

Reino Unido, Vietnã, Indonésia, Filipinas e Japão acertaram reduções nas tarifas anunciadas anteriormente. A União Europeia firmou acordo que diminui de 30% para 15% o imposto sobre suas exportações para os EUA. O Brasil, porém, ficou de fora desses entendimentos.

Dependência expõe vulnerabilidade

Dados do Banco Mundial mostram que importações representam apenas 15,7% do PIB brasileiro, sexta menor fatia entre 189 economias. “Estamos muito isolados”, avalia Simão Davi Silber, professor da Universidade de São Paulo, lembrando que o país só é menos aberto que Sudão, Turcomenistão, Argentina e Etiópia. O economista defende dobrar essa participação para estimular produtividade; caso contrário, a renda per capita levaria 70 anos para duplicar no ritmo atual.

Tarifas e barreiras acima da média global

A tarifa média cobrada pelo Brasil sobre produtos estrangeiros é de 7,26%, mais que o dobro da média mundial de 2% a 3%. Nas trocas com os EUA, a diferença é maior: 5,8% contra 1,3% aplicados por Washington. Além disso, 86,4% das importações brasileiras enfrentam exigências regulatórias, sanitárias ou técnicas, percentual superior à média global de 72% e aos 77% norte-americanos, segundo estudo do BTG Pactual com base na plataforma WITS.

Raízes históricas do protecionismo

A proteção à indústria nacional ganhou força nos anos 1950, no pós-guerra, como parte da política de substituição de importações defendida pela Cepal. Países asiáticos que adotaram estratégia semelhante, como Coreia do Sul e Taiwan, passaram a se abrir nos anos 1960 e 1970. O Brasil, porém, manteve tarifas elevadas e se concentrou em acordos regionais de menor dinamismo, como o Mercosul.

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Imagem: Rose AmantéaBrasília via gazetadopovo.com.br

Efeitos e reações

Lívio Ribeiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), afirma que a sobretaxa de 50% deve comprometer principalmente o agronegócio e segmentos que exportam componentes industriais para os EUA. Para ele, linhas especiais de crédito podem amenizar perdas, mas representam políticas pontuais, não uma abertura ampla.

Sílvio Campos Neto, da consultoria Tendências, vê no episódio uma chance de destravar o acordo Mercosul-União Europeia. Já Silber acredita que iniciativas consistentes de inserção global não estão no radar do atual governo, que considera “nacionalista e protecionista por natureza”.

Com informações de Gazeta do Povo